Smart Lockers: Uma Solução Simples e Eficiente para Cidades Inteligentes

Quando falamos em cidades inteligentes, geralmente pensamos em tecnologias complexas e em grandes investimentos em infraestrutura. No entanto, nem todas as soluções precisam ser caras, demoradas ou tecnicamente sofisticadas para terem um impacto significativo. Em minha opinião, algumas ações simples podem ser mais eficientes e rápidas, especialmente quando o objetivo é reduzir as emissões de carbono, melhorar a mobilidade urbana e, ao mesmo tempo, aumentar a qualidade de vida nas cidades. Um exemplo disso é o uso de redes de smart lockers para otimizar o fluxo de pacotes na chamada “última e primeira milha”.

Hoje, o setor de logística de bens é uma das principais fontes de emissão de CO2 e um dos fatores mais críticos para o aumento do trânsito nos grandes centros urbanos. Em São Paulo, aproximadamente 20% do volume de veículos está relacionado ao transporte de cargas e à logística de bens, segundo estimativas mais recentes de autoridades locais de transporte e infraestrutura. Esse número inclui caminhões e veículos comerciais leves que circulam para abastecer o comércio e realizar entregas, em contraste com os veículos voltados para o transporte de pessoas ​(SEMIL – Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo de São Paulo)

A logística de bens, particularmente o transporte de cargas, é uma fonte significativa de emissões de CO2. No Brasil, os caminhões são responsáveis por uma grande parte das emissões, lançando cerca de 84,5 milhões de toneladas de CO2 anualmente, o que é mais do que todo o setor de energia em termos de emissões ​(Diário do Transporte).
Diversos esforços estão sendo feitos para reduzir as emissões de CO2 provenientes da logística de bens, tanto globalmente quanto no Brasil. São Paulo vem adotando algumas dessas estratégias como o uso de veículos Elétricos, otimização de rotas logísticas com softwares de gerenciamento inteligente e uso de modais mais sustentáveis como ferrovias e hidrovias​. (O Norte).
Enquanto muitos sugerem soluções como a troca das frotas de transporte por veículos elétricos ou o desenvolvimento de redes ferroviárias para o transporte de mercadorias, acredito que uma abordagem mais simples e, muitas vezes, mais eficaz é o uso de smart lockers na otimização da logística de bens.

Os smart lockers são basicamente pontos de coleta automatizados onde os consumidores podem retirar pacotes de forma conveniente. Em vez de o entregador ir até a casa de cada pessoa, o que pode resultar em várias tentativas frustradas e viagens adicionais, as encomendas são centralizadas em um único local. Isso reduz o número de viagens, otimiza as rotas e, consequentemente, corta o uso de combustível e as emissões de CO2. Além disso, melhora o trânsito ao diminuir a quantidade de veículos de entrega circulando pelos centros urbanos.
Estudos indicam que o uso de smart lockers pode reduzir as emissões de CO2 associadas às entregas de última milha em até 30%​ (O Norte). Países como a Polônia já adotaram amplamente essa solução, resultando em uma notável diminuição das emissões e no alívio do tráfego nas áreas mais movimentadas. No Brasil, onde o transporte rodoviário de mercadorias é predominante, a implementação de uma rede abrangente de smart lockers nos grandes centros urbanos poderia evitar a emissão de milhões de toneladas de CO2 por ano​ (IBP).

Comparação com Outras Soluções

Quando comparo essa alternativa com soluções mais complexas, como a substituição da frota de caminhões por veículos elétricos, vejo algumas vantagens claras. A troca por veículos elétricos, por exemplo, requer um investimento inicial muito alto, infraestrutura de recarga, e ainda enfrenta limitações tecnológicas como a capacidade das baterias. Já a implantação de smart lockers, por outro lado, é uma solução relativamente barata e rápida de ser implementada.
Além disso, a construção de ferrovias, outra opção frequentemente discutida, também é dispendiosa e de longo prazo. Ainda que seja uma solução sustentável, ela demanda anos de planejamento, regulamentação e construção. Já os smart lockers, com uma infraestrutura mais simples, poderiam ser implementados em questão de meses, trazendo benefícios quase imediatos em termos de redução do tráfego e das emissões.
Com uma rede de smart lockers, poderíamos reduzir substancialmente o número de veículos de entrega nas ruas, diminuindo o congestionamento e melhorando a mobilidade urbana. Isso teria um impacto direto na qualidade de vida das pessoas, já que menos veículos nas ruas significam menos poluição do ar e sonora, além de mais segurança para pedestres e ciclistas.

Conclusão

As cidades inteligentes não precisam necessariamente de tecnologias futurísticas ou investimentos exorbitantes para trazer resultados significativos. Em vez disso, podemos adotar soluções simples, como redes de smart lockers, que não apenas são mais acessíveis e rápidas de implementar, mas também têm o potencial de transformar nossas cidades em lugares mais sustentáveis e agradáveis para viver. Já temos provas de que isso funciona em países como a Polônia, Inglaterra e Dinamarca e é hora de o Brasil seguir essa tendência, usando a tecnologia para fazer as cidades evoluírem de maneira prática e eficiente.
Implementar smart lockers em larga escala pode ser uma das maneiras mais eficazes de reduzir a pegada de carbono da logística urbana e aliviar a pressão sobre o trânsito das grandes cidades. E, considerando os desafios que enfrentamos, essa parece ser uma oportunidade que não podemos ignorar.

https://diariodotransporte.com.br/2018/06/13/caminhoes-no-brasil-emitem-mais-carbono-que-todo-o-setor-de-energia-do-pais/
https://www.ibp.org.br/observatorio-do-setor/snapshots/emissoes-de-co2-no-setor-de-transporte-e-projecao-no-cenario-sds/
https://onorte.net/opiniao/artigos/os-desafios-do-setor-logistico-diante-das-emiss-es-de-co2-1.1008470